A saúde moçambicana poderá, em breve, entrar novamente numa fase crítica. A Associação dos Profissionais de Saúde e Solidários de Moçambique (APSUSM) anunciou, esta semana, que vai retomar a greve geral a partir do dia 29 de Abril de 2025. A decisão surge como forma de protesto contra o alegado incumprimento dos acordos estabelecidos com o Governo nos meses de Junho e Agosto de 2023.
Segundo a nota enviada à imprensa, os profissionais de saúde sentem-se traídos e desrespeitados, pois, apesar das promessas e negociações, nada de concreto foi implementado nos últimos dois anos. O grupo acusa o Executivo de ignorar as condições degradantes em que os técnicos de saúde trabalham diariamente, muitas vezes sem os recursos mínimos para garantir o bem-estar dos pacientes.
Entre os principais pontos de discórdia está a regularização do pagamento das horas extras. Muitos trabalhadores da saúde alegam que continuam a fazer turnos exaustivos sem qualquer compensação financeira justa. “Há enfermeiros que fazem até 16 horas seguidas, sem sequer ter uma refeição digna no local de trabalho. Isso é desumano”, comentou um membro da APSUSM, que preferiu o anonimato.
Outra preocupação levantada pela associação é a escassez de medicamentos e de alimentação nas unidades sanitárias. Em várias províncias do país, pacientes têm sido obrigados a comprar os seus próprios remédios fora do hospital, situação que prejudica os mais vulneráveis. “Como é que um hospital pode funcionar sem paracetamol ou gaze? Estamos a falar de necessidades mínimas e urgentes”, desabafou uma médica da cidade de Nampula.
As más condições de trabalho também estão no centro das exigências. Desde falta de material básico, como luvas e seringas, até infraestruturas em ruínas, os profissionais denunciam um cenário caótico que compromete o próprio sistema nacional de saúde. Acrescentam ainda que muitos postos de saúde, sobretudo em zonas rurais, funcionam sem água potável ou energia eléctrica.
A APSUSM destaca que a greve não tem como objectivo prejudicar a população, mas sim chamar a atenção para uma situação insustentável que, segundo eles, está a matar o próprio sistema de saúde pública em Moçambique. “A nossa luta é também pelo bem-estar dos doentes. Sem condições, sem motivação, sem salários condignos, ninguém consegue oferecer cuidados de saúde de qualidade”, lê-se na nota.
Apesar do alerta, o Governo ainda não emitiu uma resposta oficial. A sociedade civil, por sua vez, começa a demonstrar preocupação, temendo um colapso nos serviços hospitalares caso a greve se efective. A APSUSM diz estar aberta ao diálogo, mas reforça que a paciência dos profissionais tem limites. E o dia 29 de Abril poderá marcar um novo capítulo de luta no sector da saúde moçambicano.
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