O cenário de violência que se seguiu às eleições passadas em Moçambique não só manchou a imagem da democracia, mas também deixou um rastro de destruição em sectores estratégicos para o funcionamento do país. A empresa Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) contabilizou perdas superiores a 16 milhões de dólares americanos devido às manifestações pós-eleitorais, especialmente nas zonas da linha de Ressano Garcia e Goba, incluindo locais como Tenga, Pessene, Moamba, Movene, Sikwana, Beluluane, Luís Cabral, Infulene, Machava, Mavalane e Ferroviário.
Segundo Agostinho Langa, Presidente do Conselho de Administração da empresa, há uma tendência preocupante de instrumentalização da ferrovia como palco de protestos. “Infelizmente, para muitos jovens, o bloqueio de linhas férreas e o arremesso de pedras contra os comboios tornou-se um acto rotineiro de reclamação, mesmo quando a causa da manifestação nada tem a ver com o CFM”, disse Langa, durante a abertura do Conselho de Directores da empresa, realizado na Ponta D’ouro, distrito de Matutuíne.
O impacto negativo destas acções ultrapassa os trilhos. A paralisação e o vandalismo afectaram seriamente a mobilidade de milhares de passageiros e interromperam a circulação de mercadorias, numa altura em que o país tenta recuperar de sucessivos choques económicos. A perda de mais de 1,3 milhões de toneladas de carga previstas, devido à inoperância do sistema ferroviário do Zimbabué, agravou ainda mais a situação.
As manifestações, que inicialmente pretendiam ser um grito democrático, degeneraram em violência descontrolada, resultando também na destruição de mais de 900 estabelecimentos privados e sociais, e deixando mais de 50 mil moçambicanos sem emprego, conforme revelou recentemente a Primeira-Ministra, Benvida Levi, no parlamento. Um número alarmante que pode crescer, caso não se adoptem medidas concretas para evitar a repetição deste tipo de acções.
É importante que os cidadãos reflitam sobre o real impacto da destruição de infraestruturas públicas e privadas. Protestar é um direito garantido pela Constituição, mas deve ser exercido com responsabilidade. Atacar comboios, vandalizar linhas férreas ou impedir a circulação de pessoas e bens não apenas destrói património, como também põe em causa a estabilidade social e económica do próprio povo.
A CFM, como parte essencial do sistema logístico e económico nacional, precisa de ser protegida, valorizada e preservada por todos os moçambicanos. Sem trilhos seguros, não há progresso que se sustente. As autoridades e a sociedade civil precisam de unir esforços para transformar a insatisfação em diálogo construtivo e responsabilidade colectiva.
Chegou a hora de protestar com propósito, e não com pedras. Porque destruir o que é nosso só nos afasta do desenvolvimento que tanto reivindicamos.
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