Homem vs Natureza: Cresce o Número de Mortes em Manica Causadas por Crocodilos e Cobras

A província de Manica está a enfrentar uma verdadeira crise de convivência entre comunidades e a fauna bravia. Só nos primeiros três meses deste ano, pelo menos 11 pessoas perderam a vida após serem atacadas por crocodilos e cobras em diferentes distritos da região, deixando um rasto de dor, medo e insegurança nas comunidades ribeirinhas e rurais.

Entre os casos mais recentes e comoventes, destaca-se o do jovem Dércio Gaspar, de apenas 11 anos de idade, que se encontra hospitalizado no Hospital Provincial de Chimoio após sobreviver a um violento ataque de crocodilo. O incidente teve lugar nas águas do rio Tembwe, na zona de Gobogobo, no distrito de Vanduzi. Dércio estava acompanhado pelas suas duas irmãs, de 15 e 17 anos, que, ao tentarem socorrê-lo, acabaram também feridas pelo réptil. Apesar de já terem tido alta médica, Dércio permanece internado, com ferimentos graves e perda de órgãos vitais, conforme relatou o pai.

Este episódio reacende um problema antigo e cada vez mais frequente em Manica: o conflito homem-fauna bravia. O sector do ambiente na província está em alerta e pondera tomar medidas preventivas mais rigorosas, como a recolha sistemática de ovos de crocodilos ao longo das margens dos rios, uma forma de reduzir a proliferação desses répteis em zonas habitadas por comunidades vulneráveis.

Segundo as autoridades ambientais, os distritos de Machaze, Mossurize, Macossa, Báruè, Tambara e Gondola são os mais afectados por ataques de crocodilos e cobras. Nestes locais, os rios funcionam como fonte de vida, fornecendo água para consumo, higiene e agricultura, mas têm-se tornado igualmente zonas de risco elevado para os habitantes, especialmente crianças e mulheres.

Apesar dos esforços de sensibilização levados a cabo por instituições locais, muitos residentes continuam a depender directamente dos cursos de água para as suas actividades diárias, expondo-se, assim, a ataques inesperados por animais selvagens.

A situação em Manica levanta uma discussão urgente sobre a gestão do espaço entre seres humanos e vida selvagem. A pressão sobre os habitats naturais, aliada às mudanças climáticas e ao crescimento demográfico, tem empurrado animais como crocodilos e cobras para zonas cada vez mais próximas das comunidades.

O governo provincial está a trabalhar em conjunto com técnicos do sector do ambiente para desenvolver estratégias que equilibrem a protecção das espécies e a segurança das populações. Campanhas de educação ambiental, construção de poços de água fora das margens dos rios e reforço da vigilância nas zonas críticas estão entre as medidas em análise.

Enquanto isso, o número de vítimas continua a subir, e a convivência entre o homem e a fauna bravia parece cada vez mais marcada por tensão e tragédia.

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